Na Mira da Coruja - Stefan Feld [PARTE 2]

Faaaalaa, galeeera!

Aqui é o Pedrão, uma das 7 corujas da Lost Token e venho trazer pra vocês a versão escrita de uma entrevista que fizemos com ninguém menos que Stefan Feld! Sim, versão escrita! Como alguns devem saber, temos o CorujaCast, e iremos “apresentar” a entrevista e comentá-la no nosso formato ainda! (Quando a versão podcast for lançada atualizarei este tópico com o link)

Fizemos uma entrevista de 1 hora de duração com este LENDÁRIO autor alemão, fizemos nossa pauta de perguntas e abrimos para perguntas da nossa comunidade também. Bem, tudo organizado tinha só um detalhe: o Feld falou que não se sentia confortável com o inglês! Beeem, um dos nossos ouvintes vive na Alemanha há mais de uma década e topou fazer a entrevista em alemão! Um agradecimento especial para este OUVINTE DE OURO chamado Bruno Vasconcelos , que realizou a entrevista e depois nos ajudou com a tradução!

Pois então: fizemos a entrevista em alemão. Ela aconteceu no fim do ano passado, mas não entendemos alemão. Fizemos então esse trabalho de transcrição e tradução da entrevista. Foram 14 páginas de entrevista transcrita!

Apertem os cintos, que aqui segue a PARTE 2 da entrevista com Stefan Feld.

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Macao sempre foi um grande jogo. Mas não está mais disponível no mercado tem um bom tempo. Existe perspectiva de relançamento dele na City Collection?

Feld: Com certeza. O Macao está sendo trabalhado na City Collection, estará disponível para ser comprado com algumas coisas a mais do que a versão original. Com certeza será mais acessível de comprar que o Macao num mercado que está out-of-print.

Bruno Vasconcelos: Você pode nos dar mais informações sobre a City Collection? Qual o plano, quais jogos vão sair, quando vão sair? Você sabe se vão sair no Brasil essas edições?

Feld: A ideia dessa City Collection foi bem interessante, o editor da Queen Games me chamou e falou que queria fazer algo diferente comigo. Disse que me conhecia desde o Roma, meu primeiro jogo, e ele falou que queria fazer coisas legais comigo. Decidimos repaginar meus grandes sucessos, colocar alguma coisa nova em cada jogo e lançar uma nova coleção com novas versões dos jogos.

Começamos a fazer toda a produção, porém chegou a crise da pandemia bem no começo dessa crise de fretes e papelão. Então está tudo desenvolvido, mas nem a Queen Games sabe quando tudo vai sair devido à crise.

É uma pena. Pois é um projeto especial, e tudo agora vai sair mais caro e mais tarde do que o planejado. Não tenho as informações exatas, quem sabe tudo é a Queen Games.

O que eu sei é que os 4 primeiros jogos foram produzidos e serão lançados até Abril, eu acredito.

O problema maior agora na produção global de jogos é a produção de cartas, que atrapalhou todo o fluxo de produção. Tem casos de editoras que demoraram 6 meses para receber carregamentos que deveriam demorar poucas semanas.

Bruno Vasconcelos: Eu trabalho com frete internacional e logística, e esta crise está realmente sendo bem difícil, gerando muitos atrasos e custos adicionais para todo mundo.

Feld: Com certeza. Os fretes estão absurdos e não tem como mudar, é assim. É uma pena que os jogos tenham que sair tão caros, mas eu entendo que tudo está mais caro e a editora não tem como bancar tudo. Não acho isso bom, mas é como são as coisas atualmente.

Por outro lado, essa City Collection são edições deluxe. Com qualidade extraordinária, já tive tudo em mãos, exceto as cartas, e sei que não justifica a alta dos preços, mas são edições de valor agregado elevado já em sua concepção.

Bruno Vasconcelos: Jogo bonito é bom, hehe!

Feld: O editor da Queen Games foca nisso! Ele quer que tudo seja bonito, de altíssima qualidade e se preocupa bastante com toda essa questão. Atualmente os 4 iniciais já estão em produção. Os jogos 5 e 6 já estão encaminhados. Os jogos 7 e 8 terão jogos bem conhecidos, e tem pelo menos um desses que é um jogo que ninguém está esperando. Não posso falar nada, mas aguardem as novidades!!

Bruno Vasconcelos: É o Burgundy??

Feld: Não não, esse os direitos são da Alea. Então o Burgundy não estará na City Collection, isso eu posso falar. Um dia haverá mais alguma coisa do Burgundy, mas atualmente é da Alea e vai ficar deste jeito.

O jogo que ninguém está esperando, que não posso falar o nome, também começa com a letra B. Então tem umas 5 opções para vocês chutarem!

Bruno Vasconcelos: Novo trivia para as pessoas: tentar adivinhar o jogo que vai ser lançado entre os 7 e 8 da City Collection do Feld!!

Feld: Estamos trabalhando em adicionar os novos módulos e deixar eles bem bonitos e bem feitos! Até o momento, estamos com a série planejada até o 8o jogo, aí vamos avaliar o sucesso da série e se damos continuidade e lançamos mais jogos nela.

Ideias não faltam, mas temos que avaliar. Resumo: jogos 1 a 4 falta produzir as cartas e enviar para as pessoas. Jogos 5 e 6 estão bem encaminhados, falta terminar de produzir. Jogos 7 e 8, faltam alguns módulos e coisas para serem ajustadas e aí mandar tudo pra produção. Aí depois temos que ver se vai fazer sucesso mesmo.

Uma coisa que posso falar é que a cada 4 jogos da coleção, um deles é um jogo completamente novo! Então os jogos 4 e 8 são novos.
[Nota do redator: O jogo 7 é o que ninguém está esperando!!]

Estou bem animado e feliz com o Marrakesh, acho que as pessoas vão gostar muito do jogo! Vai ser um jogo euro pesado, e não médio como de costume.
[Nota do redator: Não confundir com o Marrakesh que é de outro autor!!!]

Bruno Vasconcelos: Obrigado pelas informações privilegiadas! Com certeza já tem muita gente aguardando ansiosamente por essa nova coleção.

Você é a primeira pessoa a receber o jogo pronto? Depois que está tudo produzido e desenvolvido? Ou você só recebe junto com a venda normal?

Feld: Depende da editora. Tem editora que faz o print de prova e manda para o autor para conferir se tem algum problema e só depois libera pra venda. O Bonfire, por exemplo, eu recebi um print de prova antes. A Alea, por exemplo, não faz isso, ele só vê quando já está pronto para o público. Com a Queen Games, eu tenho mais acesso ao jogo durante a produção.

Estou bem satisfeito com a Queen. Já tive acesso a todo o material antes. Mas isso depende totalmente da editora. Tem vezes que eu recebo pelo correio um jogo meu e nem estava esperando, é como se fosse um presente. A primeira vez vendo e abrindo um jogo meu, como foi o caso do Kokupelli, que teve uma produção super rápida. Aí quando isso acontece, faço todo um ritual de unboxing e jogo a versão final do meu jogo pela primeira vez.

É uma das minhas motivações principais como autor é isso, ter o produto pronto e pensar que está nas casas de várias pessoas podendo jogar o jogo, como eu. Felizmente, eu tenho um trabalho como diretor da escola e não preciso me preocupar com as vendas dos jogos, e essa é minha maior motivação: pensar nos outros jogando os meus jogos, e não o dinheiro.

Bruno Vasconcelos: Isso é interessante, pois numa profissão criativa é melhor para o artista ter essa liberdade, financeira e de horários para produção.

Você conhece algum autor brasileiro? Já teve algum jogo brasileiro nas mãos?

Feld: Eu não sei. Não conheço de nome, provavelmente já joguei algum jogo brasileiro, mas não fiquei sabendo. Eu olho quem é o autor, tento me manter à par das novidades, mas tem muito tempo que não consigo me manter atualizado na comunidade. Não tendo muito tempo livre para pesquisar isso, o tempo que tenho acaba sendo para trabalhar nos meus jogos!

Você pode me dizer algum autor ou jogo brasileiro?

Bruno Vasconcelos: Eu estou há 13 anos na Alemanha, e acaba que estou meio desatualizado nisso também. Mas posso dizer de alguns mais conhecidos, como o Jordy Adan do Cartógrafos, que ficou em 2o lugar no Kennerspiel des Jahres, e o Brazil que vai sair logo internacionalmente, que ouvi falar de pessoas da Alemanha fazendo resenha do jogo e ele ainda nem saiu no Brasil.

Feld: Ah, okay. Um instante… [Feld volta com o Cartógrafos em mãos] Então, me corrigindo, sim, eu conheço um autor e jogo brasileiro. É um jogo muito bom!

Tirando os seus jogos, quais os jogos favoritos de Stefan Feld, como jogador? Você pode nos dizer o seu top 3? O pessoal adora ranking e esse tipo de coisa, hehe.

Feld: Existem muitos excelentes jogos. E atualmente, muitos jogos que eu acho muito, muito bons, mas eu sou um saudosista, e os jogos que me marcaram mais são jogos antigos. Um dos que mais me marcaram foi o Löwenherz, outro foi o Prince of Florence, como já mencionei antes, e o Taj Mahal do Knizia.

A mecânica que eu mais gosto é a de leilão, e acho que a do Taj Mahal é muito inteligente, essa forma como o Knizia usa em seus jogos. É bem interativo e enfrentativo. Eu gosto do Power Grid, apesar de demorar um pouco mais do que eu gostaria.

Dos títulos mais atuais, o que mais me impressionou foi o Ark Nova, que eu gostei demais! Eu gosto muito de ver o que o pessoal está fazendo atualmente, ver as mecânicas que estão bolando hoje em dia e poder refrescar as minhas ideias.

Bruno Vasconcelos: Eu como jogador gosto de jogar um jogo novo, mas você como autor acaba por ver por um olhar crítico inicialmente, vendo as mecânicas e o que está acontecendo ali de novidade.

Feld: Outro jogo que gosto bastante é o Cidades Submersas. Ele tem várias coisas que gosto muito em um jogo.

Você como professor e diretor de colégio, como você vê a relação de jogos de tabuleiro e educação? Você já tentou integrar isso na escola? Quais os seus pensamentos acerca disso? Você tenta ativar isso na sua escola?

Feld: Eu adoro esse tema!! É um tema complicado, mas eu gosto bastante do princípio, eu acredito que jogos de tabuleiro deveriam ser uma disciplina no colégio!

Eu vejo os jogos de tabuleiro num geral, como tendo muito a ensinar, tanto na parte emocional e social, quanto na forma prática das competências que você tem que desenvolver para se jogar jogos de tabuleiro.

Jogar um jogo novo, ler um manual, aprender as regras, explicar as regras, toda essa dinâmica tem muito a ensinar. Ainda a dinâmica de jogar junto, aprender a ganhar, aprender a perder, tomar decisões, lidar com seus erros e lidar com tudo isso é algo que tem muito a ensinar, uma experiência muito rica de comunicação.

Dá pra aprender bastante, e se divertir ainda. Não apenas em jogos pedagógicos, que tem esse princípio, mas jogos normais, eurogames médios que jogaríamos com os amigos, têm muito a ensinar!

Apesar de tudo isso, eu nunca quis fazer isso na minha escola. Pois eu já trabalho tanto na escola, que não quero misturar meu hobby com meu trabalho. Fico feliz de que as 2 coisas estejam em áreas separadas e que eu possa manter isso assim.

Eu nunca quis que ficasse um clima chato onde alguém dissesse que tenho conflito de interesse, de tentar promover meus jogos na escola, como se fosse uma campanha de marketing. Então nesse ponto, é importante para mim deixar separadas as duas áreas.

O que é interessante é que nos últimos anos, aconteceu muito dos meus alunos me reconhecendo como “o autor dos jogos”, e pedindo para mim fazer uma oferta de clubes de jogos de tabuleiro. E agora estou usando a oportunidade de que após a reforma da escola, que está em andamento, vou separar uma sala para o clube dos jogos de tabuleiro que será regido pelos alunos.

É bem curioso como o interesse pelos jogos de tabuleiro aumentou consideravelmente por parte dos jovens nos últimos anos.

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Bruno Vasconcelos: Você acha que esse interesse é só na sua escola, por você ser diretor ou é um interesse geral dos jovens que está aumentando? Como um novo desenvolvimento cultural na Alemanha, ou algo assim?

Feld: Sim, eu acredito que isso faça uma diferença. O que é bem legal e dá um charme para toda a coisa. Mas eu acredito que os jogos de tabuleiro não são um produto cultural tão grande quanto deveria ser na Alemanha.

No Brasil, como é essa questão dos jogos de tabuleiro?

Bruno Vasconcelos: No Brasil é bem menor do que mesmo na Alemanha.

Feld: Eu ainda não vejo como tendo todo esse sucesso por aqui também, que eu consigo andar na rua sem ser reconhecido nem nada do tipo. Num geral, não vejo que tenha essa mudança muito grande na cultura alemã, que talvez seja mais um efeito de bolha na minha escola.

Aconteceu apenas em raras ocasiões de alguém me parar na rua para tirar uma foto, ou autografar um jogo, tirando em Essen.

Bruno Vasconcelos: Esse experimento do clube de tabuleiro que você fará na sua escola será restrito a um clube ou você poderia ofertar uma disciplina de jogos de tabuleiro, como havia proposto?

Feld: Eu, mesmo como diretor da escola, não tenho esse poder de criar a disciplina, então será um clube mesmo. Aqui na Alemanha essas questões são bem rígidas, mas sempre que eu puder, tentarei espalhar essas ideias.

Atualmente não vejo esse desenvolvimento no currículo escolar alemão, mas talvez quem sabe um dia quando eu estiver aposentado, os jogos de tabuleiro sejam tão comuns na cultura que possam ser desenvolvidos como música, pintura ou outros elementos culturais que estão incluídos na grade curricular alemã.

Bruno Vasconcelos: Minha esposa também é professora de matemática, e com certeza poderia usar jogos em várias partes práticas de suas aulas, inclusive vários autores são matemáticos como Knizia e Kramer.

Considerações finais, Stefan Feld?

Feld: Em termos de novidades, não posso falar muito, pois eu recebo uma “focinheira” das editoras e por isso não posso falar muito.

Tirando a City Collection da Queen Games, estou há 2 anos desenvolvendo um jogo temático, um ameritrash de Stefan Feld, hoje mesmo peguei em algumas miniaturas do jogo. Este vai ser, com certeza, a próxima coisa que vai sair de novidade.

Tenho também um projeto com a Deep Print Games, trabalhando em algo novo com eles. É mais um euro pesado que estou desenvolvendo. Temos que ver como vai ser a produção com essas crises mundiais.

Com a Ravensburg tenho um projeto separado da Alea acontecendo também, mas não posso falar absolutamente nada sobre ele. Mas logo mais, sairão mais informações sobre esse projeto.

Para os fãs, eu não me aposentei, tenho vários projetos, porém as produções estão atrasadas devido à pandemia e crise global de logística.

Novamente, eu gostaria de dizer que estou bem feliz de poder estar conversando com vocês do Brasil, fazer minha mensagem chegar até aí.

Que horas são?

Bruno Vasconcelos: 12:30 no Brasil

Feld: Está na hora do almoço de vocês então! Abraços a todos os fãs do Brasil!

Bruno Vasconcelos: Muito obrigado pela sua disposição! Fiquei feliz que a entrevista foi muito tranquila, e você ser tão simpático. Fico feliz que os brasileiros terão bastante material sobre o Stefan Feld! Muito obrigado!

Feld: Obrigado! Tchau! Fico aguardando vocês em Essen para uma partida de Jorvik e já vou levar a cerveja porque sei que vou perder!

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Você que chegou até aqui nessa postagem, - SEU LINDO(A)! - espero que tenha gostado da SEGUNDA PARTE nossa entrevista com o excelente Stefan Feld! O cara foi muuito gente boa! Logo mais postaremos o vídeo da entrevista na íntegra, que está em alemão (sem legendas, se alguém quiser legendar o vídeo pra gente, dá um toque!) e mais tarde faremos a versão podcast comentado da entrevista (este, em português, claro).

Para conferir a PARTE 1 basta vir aqui: Na Mira da Coruja - Stefan Feld [PARTE 1]

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