Inflação nos Preços de Board Games no Brasil

Inflação nos Preços de Board Games no Brasil

Fala, pessoal! Gostaria de comentar sobre um tema que tenho discutido bastante com amigos: a inflação nos preços de board games aqui no Brasil. A comunidade de BG (board games) já é relativamente pequena no país, e, como parte do Sul Global, temos um poder de compra reduzido. Somado a isso, o preço dos jogos está crescendo exponencialmente, especialmente dos títulos mais populares.

Um exemplo recente é o Sky Team. Esse jogo é realmente excelente, não só por seu design impecável, mas também pela forma como certos atributos da aviação foram traduzidos em suas mecânicas. Acredito que qualquer entusiasta do tema vai apreciar essa atenção aos detalhes.


Sky Team - Luc Rémond

O jogo foi lançado pela Galápagos no segundo semestre de 2024. Na primeira semana, já estava esgotado no site oficial da empresa, e na segunda, desapareceu dos sites das lojas especializadas. Hoje, dia 29/10/2024, o Sky Team pode ser encontrado por cerca de 500 reais ou 464 reais no pagamento via PIX — quinhentos reais por um jogo de 800 gramas e de 21x24 cm!

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Flutuação do valor do jogo em 1 mês.

É claro que um jogo não é apenas sobre o tamanho ou a quantidade de componentes na caixa. Sky Team é um jogo premiado, tendo vencido o Spiel des Jahres e outros prêmios, mas sejamos francos: os custos de componentes, impressão e material certamente são fatores a considerar. Ainda assim, 500 reais representam um aumento de 227,28% sobre o valor original da Galápagos. A frustração aumenta ao vermos os preços fora do Brasil, que se mantêm constantes e com várias ofertas.

Felizmente, tive a sorte de contar com um bom lojista na minha cidade e consegui comprar o jogo pelo valor de lançamento.

Inflação Artificial de Preços e “Buy-out”

Meu segundo ponto é sobre o aumento excessivo e, muitas vezes, artificial dos preços. Recentemente, acompanhei o preço de uma expansão de um jogo (prefiro não citar qual). Comecei a jogar esse título, mas ainda não joguei o suficiente para querer a expansão. Como o lançamento da expansão já tem alguns anos, fiquei de olho em possíveis promoções.

A expansão entrou em promoção, mas achei que não era o momento ideal para comprar, já que havia mais de 10 lojas ofertando o produto. No entanto, pouco tempo depois, a expansão ficou fora de estoque na editora, e o preço subiu 113,40%. Isso não aconteceu porque as cópias estavam esgotando, pois ainda estavam disponíveis nas mesmas lojas; as lojas simplesmente elevaram os preços.

Outro caso similar é o Root, um jogo popular, premiado e muito querido pelos heavy gamers. Em algumas análises, até disseram que o jogo poderia redefinir o design moderno de board games. Porém, já faz alguns anos desde a última impressão. Hoje, o preço de um Root novo é 769,99 reais, comparável ao de um Twilight Imperium pouco usado — outro clássico premiado, mas com o triplo de conteúdo na caixa, justificando seu valor alto. O preço original do Root girava em torno de 300 reais.

No caso do Root, assim que a MeepleBR anunciou uma reimpressão, surgiram inúmeros anúncios nos grupos de compra e venda e no OLX, alguns até lacrados, com valores próximos ao preço original. Isso me leva a questionar se esses preços são realmente justificados ou se são inflacionados artificialmente.

Não sei ao certo a causa desse problema, mas é claro que muitos fatores podem estar influenciando. Seria uma prática de buy-out, com pessoas comprando estoques para lucrar com a escassez? Poderia ser baixa tiragem das editoras ou simplesmente alta demanda por um excelente produto? Quando olho para outros mercados, como os EUA ou a Europa, vejo que essa discrepância de preços é muito menos comum, o que me faz pensar que investidores especulativos podem estar desempenhando um papel relevante.

  • Buy-out: Prática de adquirir todo o estoque de um produto em várias lojas com a intenção de elevar seu valor de mercado. Comum em card games e outros produtos de tiragem limitada.
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Excelente publicação!

Tenho reparado nesses preços inflacionados tem algum tempo, mas no Root se tornou algo mt evidente, na minha opinião. Cito aqui Banquete a Odin, que vira e mexe, esgota e volta com preço salgado, reforçando a pratica do buy-out no mercado de jogos BR.

Adiciono aqui outra relevante questão para os preços inflacionados, mas com foco neste presente mês Outubro, que já estamos nos aproximando da famosa Black Fraude, vários jogos q estava interessado estão aumentando o preço aos poucos para entregar aqueles fabulosos descontos mascarados :clown_face:

Não basta os preços absurdos dos jogos, ainda temos q lutar contra contra essas práticas abusivas no mercado de jogos :smiling_face_with_tear:

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Existe um conceito na economia chamado hiato do produto, que de forma simplificada é a diferença entre o PIB potencial e o PIB efetivo do país. Em outras palavras, se a economia de um país está operando acima ou abaixo de sua capacidade. Esse conceito é especialmente importante para o estudo da inflação, visto que se um país está operando acima da sua capacidade, teremos um efeito inflacionário. Só pensar em uma fábrica que, com todas as suas máquinas em funcionamento, consegue fabricar 100 produtos x. Se a demanda por esse produto for 300x, o que acontece é que a fábrica terá espaço para aumentar o preço do produto.

Claro que isso é apenas um exercício, visto que a economia de um país é muito maior e complexa que o nosso microuniverso de Board Games, mas imagino que estamos vivendo algo parecido. Além da demanda ter aumentado, visto que o hobby parece realmente ter crescido (dado o número de participantes no DOFF, por exemplo), o que me parece é que as editoras com presença nacional estão diminuindo a oferta. Demanda crescendo com oferta diminuindo, temos o tal do hiato do produto operando acima de sua capacidade, o que causa inflação.

A grande questão é por que as editoras estão diminuindo a oferta, ou seja, fazendo uma tiragem menor dos lançamentos, se a demanda é maior ou, no mínimo, a mesma?

Acho que a resposta aqui passa por uma série de fatores, e alguem mais por dentro poderia responder com mais propriedade (afinal tudo escrito aqui são suposições). Mas o que me vem a cabeça são possíveis problemas de estocagem (leia-se mofo) e a grande quantidade de lançamentos, possibilitando sempre a prática do preço cheio.

Alguém que comprou o Sky Team, provavelmente pegará o próximo hype também pelo preço de lançamento. É uma estratégia das editoras e não podemos demonizar isso, afinal cada um sabe do seu negócio. O problema aqui é que tanto o Sky Team quanto o próximo hype, está na mão da mesma editora, e com exclusividade. Se ela tem certeza que vai vender 200 cópias de Sky Team e 200 cópias do próximo hype, por que ela se arriscaria a fazer 400 cópias de Sky Team e não 200 de cada? Parece ser uma estratégia de segurança, considerando os já ditos risco de mofo, custo de estoque, ter que fazer promoções, etc.

A solução aqui é mais complexa do que apenas educar/proibir para que nós do hobby não pratiquemos Buy-Out ou não nos deixemos levar pelo FOMO (temos inúmeros exemplos na economia de que regulamentar o mercado na canetada não funciona). Mas passa principalmente pela entrada de novos concorrentes no mercado, o que acredito que deve acontecer com o hobby crescendo mais. Com mais nomes hypados nas mãos de mais editoras diversas, acredito que cada uma olharia com mais carinho para cada jogo, criando uma concorrência saudável, principalmente para nós consumidores.

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Do ponto de vista de hobbista, concordo contigo que é sem sentido algo subir 200% em 1 semana. Só que do ponto de vista econômico é até previsível o que ocorre, pois temos a lei de oferta e procura. Uma coisa que me deixa encucado é o porque isso tem ocorrido com frequência? Seria porque o hobby cresceu e as editoras não se deram conta e não estão preparadas para atender essa demanda? Ou será que isso tem acontecido de forma deliberada?
Só esse ano tivemos 2 hypes enormes com Heat e Skyteam. Será que a Galápagos não esperava esse sucesso e optou por trazer um número de cópias que fazia sentido? Ou será uma estratégia de mkt que buscou ampliar o hype, para uma nova tiragem em breve, aumentar o preço de algo que já é caro e trazer junto a expansão?

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Varios pontos bons no artigo original e nos comentarios.

Uma coisa a cosiderar que ao vir ser mencionado e o FOMO (fear of missing out). Infelimente essa e a pratica pradao no lacamento de jogos (pricipalmente em financiamento coletivos).

Ai junta isso com o risco para as editoras errarem os tamanhos das tiragens, e voce gera um mercado com oscilacoes gigantescas nos precos. Ondes uns jogos dobram de precos, e outros caem pela metada de uma hora para outra.

Vale tb comentar, que coisas similiares acontencem la no mercado americano tb. Onde jogos lancados na Europa esgota na pre-venda americana, e os precos ficam insanos (quem nao lembra do Heat que atingiu precos riduculos la fora).

Infelizmente, qq mercadoria que vive de FOMO, vai oscilar muito por conta de Hype, ou falta dele. E boardgame e um hobby que usa o FOMO pesadamente.

E possivel evitar sim, mas, voce tem de ter a paciencia para achar um preco bom, ou estar OK de nao ter um jogo especifico.

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O que é estranho é que, quando falamos da tendência observável de oferta e demanda, a editora não está ganhando nada com a inflação do mercado paralelo ou com o preço inflacionado dos revendedores.

Não sei se o tipo de contrato das editoras limita a quantidade de produtos que podem produzir ou distribuir. Mas, quando falamos de board games e outros hobbies que envolvem papel ou papelão impresso, parece ser um caso de escassez virtual, onde deliberadamente escolhem fazer uma baixa quantidade do produto, gerando falta no mercado.

Entendo que é bom para a editora vender todas as X cópias que produziram, mas se há procura, por que não imprimir mais e vender mais?

Outro ponto que levantaram foi de FOMO, e é bem real. Principalmente como consequência de um jogo que teve um grande Hype, muita gente vai comprar, só em caso de que “vai que falta”. Se der sold out você ainda consegue vender por mais do que pagou o jogo.

E em resumo, tanto escassez como inflação dos preços é ruim só para nós jogadores e comunidade. Não acho que a flutuação de valores é apenas oferta e demanda, mas também oferta e demanda, como citei anteriormente são vários fatores

Acho que a questão aqui é a segurança da editora em conseguir vender todo o estoque, já que ter produtos parados gera diversos custos. Além disso, o estoque da Galápagos é em Itajaí, região muito propícia para incidência de mofo.

Vimos essa preocupação deles em zerar o estoque nas promoções bizarras que tivemos recentemente no site próprio, com o Hansa Teutônica e o Zombicide, por exemplo.

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O mercado nacional é significativamente menor que o americano ou europeu, então vejo como natural as oscilações aqui serem maiores.

No entanto, vejo o texto olhando para apenas um lado da moeda. Também temos diversos jogos sendo vendidos a valores inferiores aos praticados alno mercado exterior, os ditos “flopados”, que não são necessariamente jogos ruins, pelo contrário, há vários excelentes. É vejo isso também como consequência de um mercado menor aqui.

Inclusive, até pouco tempo, presenciei muito mais jogos flopados do que hits que esgotam e vão pra preços abusivos, então creio ser possível as editoras terem colocado pé no freio nas tiragens mais recentes justamente para evitar o risco de tomar prejuízo.

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Não é tão significativamente menor não, brasileiro, no geral, sempre pensa que aqui é pior ou menor, sendo que é um país continental.

Segundo dados da Pesquisa Game Brasil 2019, 28% da população do país se diverte com tabuleiros (“boardgames”), fatia próxima dos que jogam cartas – 34%. O segmento representou 9,7% das vendas do setor de brinquedos, de um total de R$ 6,871 bilhões, em 2018.

Leia mais em: Mercado de jogos de tabuleiro ganha espaço no Brasil

Que em USD é aproximadamente 1.178B $, e isso que são dados de 2019, de lá pra cá o nosso mercado cresceu.

  • The Board Games market in the United States is projected to generate a revenue of US$2.7bn in 2024.

  • In Europe, the revenue generated in the Board Games market in 2024 amounts to US$2.1bn.

De fato o Brasil é um mercado menor, mas continua sendo um mercado gigantesco, proporcionalmente talvez seja até maior, se considerarmos que nossa moeda é mais fraca e população é menor.

De qualquer maneira, é um mercado que movimenta bilhões. Cuidado ao assumir dados.

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Muita gente compra pra revender também. Eles compram nos lançamentos, no preço baixo e quando percebe a falta no mercado, começa a vender mais caro. OLX, Mercado Livre, Ludopedia, chovem de BG com preços que beiram o absurdo… Enfim, o segredo para resolver isso está no próprio consumidor. Ou ele aprende a valorizar o próprio dinheiro e deixa de comprar em valores altos, ou ficará a mercê do “mercado negro”…

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So que os 6B sao para o setor todo. e BG representa 9.7%, totalizado uns 600M.

Ou em torno de 5% do mercado americano / europeu.

Infelizmente isso vira erro de arredondamento na producao, permitindo uma melhor economia de escala.

Eu gosto quando anunciam uma nova edicao do jogo… E um tal de aparecer nego desesperado para vender antes das pessoas descobrirem q em breve vem uma versao nova que fara o precioso jogo antigo despencar de preco. (Veja o preco do Clash of Cultures).

kkkkkk

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Pessoal precisa entender que o legal do hobby é jogar, e não ser trader de papelão kkk

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No grupo q jogo tem uns 2 ou 3 q sao assim. Rodam jogos mais rapido q eu como um hamburguer. kkkk

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Olá, @Luis_Scremin!

Percebemos que, com o esgotamento do Skyteam, alguns vendedores acabaram reajustando o preço. Acreditamos que o mais importante é valorizar o hobby e mantê-lo acessível para todos. Por isso, sugerimos sempre procurar vendedores que respeitem esse compromisso e prezem pela experiência justa dos jogadores.

Saudações!

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tá mais barato importar pela Amazon . deixa esse povo que quer se aproveitar morrer com o produto na mão. sé é lei de mercado, vale para os dois lados. cabe ao consumidor fazer a diferença também

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“Enfim, o segredo para resolver isso está no próprio consumidor. Ou ele aprende a valorizar o próprio dinheiro e deixa de comprar em valores altos, ou ficará a mercê do “mercado negro”…"

O problema nessa parte é que não adianta 80% dos consumidores (valor que é puro chute meu do quanto tem de pessoas que realmente precisam pensar e pesar os gastos com jogos) se educarem nesse sentido se os outros 20% (aqueles que simplesmente têm dinheiro sobrando e/ou já transformaram a revenda de jogos até em fonte secundária de renda) compram tudo que veem pela frente, sem questionar preço, porque eles podem pagar apenas “porque sim”.
No fim das contas, é um hobby que eu queria mais é que a bolha estourasse de vez, pra quebrar esse tanto de especulador saf4do…

Só para incrementar a discussão, considerando a questão da baixa concorrência, visto a prevalência da Galápagos nesse mercado, considero que as alterações tributárias nas importações possam também ter contribuído para esse problema de preço, uma vez que dificultou a entrada de produtos diretamente do exterior.

Tem um podcast do Atila que discute o aumento do preço da moradia. O que isso tem a ver com os jogos de tabuleiro? Algumas coisas.

  1. Capital que escorre para outros mercados. No mundo imobiliário, os grandes compram apartamentos a preços altos porque podem pagar, aumentando assim o preço por metro quadrado cada vez mais. Algo similar acontece no hobby: esse capital excedente procura um local para se alojar, o que acaba aumentando o preço e a competitividade.

  2. Existe day trade imobiliário, de empresas e o day trade de papelão. Como já dito, a especulação é algo que não só contamina, como também afunda empresas, como no caso de algumas brasileiras da bolsa (MGLU3, etc.). Ou seja, a prática da especulação já é antiga e encontra, novamente, um local fresco para se alojar, sendo essa espécie de leilão por escassez, em um mercado de jogos de tabuleiro que vem crescendo aos poucos.

  3. Perda do senso de comunidade por dinheiro. Já percebeu que a ideia de comprar uma casa e ter uma vizinhança se tornou distante? Algo semelhante acontece aqui. Algumas pessoas têm pesos diferentes quando se trata de engrandecer a comunidade (montado grupo de jogos com amigos, indo a luderias) versus revender para lucro próprio (comprar quando a oferta é farta, e vender quando tem escassez).

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